Segunda-feira, 29 de Março de 2010

 

 

 

 "É preciso partir as palavras como se parte um mealheiro ou um ovo de Páscoa para ver o que há lá dentro."  

 

 

 

 

François Varillon, in Alegria de Crer e de Viver

 

 

 

  PRECE

 

Meu Deus, aqui me tens aflito e retirado,
Como quem deixa à porta o saco para o pão.
Enche-o do que quiseres. Estou firme e preparado.
O que for, assim seja, à tua mão.
Tua vontade se faça, a minha mão.

Senhor, abre ainda mais meu lado ardente,
Do flanco de teu Filho copiado.
Corre água, tempo e pus no sangue quente:
Outro bem não me é dado.
Tudo e sempre assim seja,
E não o que a alma tíbia só deseja.

Se te pedir piedade, dá-me lume a comer,
Que com pontas de fogo o podre se adormenta.
O teu perdão de Pai ainda não pode ser,
Mas lembre-te que é fraca a alma que aguenta:
Se é possível, desvia o fel do vaso:
Se não é, beberei. Não faças caso.

 

 

 

VITORINO NEMÉSIO, in O Verbo e a Morte, 1959

 

 

As pessoas sensíveis

 

 

 

 

  

As pessoas sensíveis não são capazes
De matar galinhas
Porém são capazes
De comer galinhas

 

 

 

 

O dinheiro cheira a pobre e cheira
À roupa do seu corpo
Aquela roupa
Que depois da chuva secou sobre o corpo
Porque não tinham outra
O dinheiro cheira a pobre e cheira
A roupa
Que depois do suor não foi lavada
Porque não tinham outra

 

 

 

“Ganharás o pão com o suor do teu rosto”
Assim nos foi imposto
E não:
“Com o suor dos outros ganharás o pão”

 

 

 

Ó vendilhões do templo
Ó construtores
Das grandes estátuas balofas e pesadas
Ó cheios de devoção e de proveito

 

 

 

Perdoai-lhes Senhor
Porque eles sabem o que fazem

 

 

 

                                 Sophia de Mello Breyner Andresen, in Livro Sexto 

 

 

 

 

 

 

 

 



publicado por aquiharatos às 21:04
Quarta-feira, 24 de Março de 2010
Exposição de livros e DVD em francês na Biblioteca Escolar

Iniciativa do Grupo de Francês da Fernão Mendes Pinto, a Semana da Francofonia conta também com a divulgação de obras francesas.

 

Em versão original ou em tradução portuguesa, livros e filmes para ler, ver e apreciar na Biblioteca Escolar.  Policiais, romances, ensaios, Banda Desenhada.

 

Dramas, comédias, musicais.

 

Oferecemos alguns pares “Um Filme…um Livro”. Em português e em francês.

 

  A Turma - livro e DVD  A Turma - edição original em francês  O Principezinho - edição francesa e tradução portuguesa  Biografia do autor de O Principezinho

 

 

 

 
Literatura Francesa
 
 
Literatura Francesa
Simone de Beauvoir
Cartaz


publicado por aquiharatos às 13:02
Quarta-feira, 24 de Março de 2010

Caderno de Memórias Coloniais - 2ª sessão Isabela Figueiredo, autora de Caderno de Memórias Coloniais 

 

 

A disponibilidade da autora de Caderno de Memórias Coloniais não tem limites. Porque esgotada a lotação na primeira sessão de apresentação da obra, Isabela Figueiredo agendou mais dois momentos de conversa com os alunos sobre o seu livro de memórias de Moçambique.

 

 

Alunos do Curso Profissional de Turismo assistem com entusiasmo
 
  

 

 

 

 

 

Os alunos do Curso Profissional de Turismo ouviram com atenção a história de uma menina que viveu a sua adolescência num período de muita turbulência, de muito sofrimento (1970-1978) e num espaço (então Lourenço Marques, hoje Maputo) habitado por dois mundos diferentes: o mundo do pai, que simboliza o antigo poder e o racismo, e o mundo da filha, que representa a tolerância, a defesa da igualdade entre todos os seres humanos, para além da cor da pele, da raça, da cultura...

 

   Ângela Laginhas partilha a sua experiência em Moçambique Caderno de Memórias Coloniais - 2ª sessão - foto conjunta

  A visão destes dois mundos foi ainda enriquecida pela partilha de Ângela Laginhas, Assistente Operacional da nossa escola, que nos falou da sua vivência em Moçambique, de mãos dadas com todos, brancos e pretos, gente pobre e pessoas com bens, gente paternalista e colonizadora e pessoas que criaram laços de fraternidade humana à sua volta.

Estabeleceu-se o diálogo com a plateia, constituída por muitas alunas negras (negras? pretas? de cor? – a força das palavras e o contexto em que devem ser usadas, de acordo com quem diz, a quem diz e em que momento foi também alvo de discussão sem preconceitos). O olhar do negro sobre o branco e deste sobre aquele foi realçado. Afinal, não são os dois olhares complementares?

Recordámos a história de Papalagui, que significa “o Branco, o Senhor” e que retrata como um indígena polinésio olha para a nossa civilização. Traduz o “modo como um indivíduo ainda intimamente ligado à natureza nos vê a nós e à nossa cultura” (in O Papalagui, discursos de tuiavii chefe de tribo de tiavéa nos mares do sul, trad. Luiza Neto Jorge).

 

O conceito de alegria, de cores (garridas em África, cinzentonas em Portugal, nos anos 70), de lugares que se podiam povoar…tudo era diferente entre África e a chamada Metrópole. Em Moçambique marcava-se encontro numa esquina, com naturalidade; em Portugal, isso seria de muito má reputação; em África as roupas eram todas coloridas e apelativas, das calças amarelas às camisas vermelhas ou verde-alface; aqui tudo era discreto e bem comportado…, cheio de preconceitos.

 

E se voltarmos à Polinésia? O que nos diz o indígena que olha para o homem ocidental? Que este vive numa caixa de fósforos, dada a pequenez, a exiguidade dos prédios, se comparada com a floresta; que o homem branco, o Papalagui, sofre da grave doença de estar sempre a pensar, sem aproveitar os momentos da vida. Eis um despertar da leitura:

 

 

 

 

“A vida do Papalagui faz lembrar um homem que vá de canoa a Savaü e que, mal se afaste da margem, pense: “Quanto tempo levarei daqui até Savaü?” E assim, põe-se a pensar, sem ver a risonha paisagem que vai atravessando. Depara-se-lhe então, na margem esquerda, o flanco de uma montanha, da qual já não mais desvia os olhos. “Que haverá ali, detrás daquela montanha? – pensa ele. – Alguma estreita ou profunda baía?” Tanto pensa que se esquece de fazer coro com os jovens remadores; e nem sequer ouve os alegres gracejos das raparigas. (…)

 

 

 

O Papalagui …faz imenso barulho com os pensamentos que tem; consente-lhes que sejam mais barulhentos do que crianças mal educadas. Comporta-se como se eles fossem tão preciosos como as flores, as montanhas e as florestas.”(p.65) 
 

  Caderno de Memórias Coloniais - 3ª sessão, na BE 

 

 

A terceira sessão sobre as memórias de África decorreu na Biblioteca Escolar, espaço vocacionado para a intertextualidade.

 

À medida que a escritora conversava com os alunos e se escutavam mutuamente, a professora bibliotecária ia recheando a conversa com outras propostas de leitura. Uns solicitavam policiais, outros poesia, outros ainda afirmavam não gostar de ler.

 

Será que já experimentaram? Ora experimentem ouvir José Luís Peixoto, autor de Gaveta de Papéis, uma das obras requisitadas pela turma.

 

 

 

 

 

http://www.youtube.com/watch?v=jonJaJkh58E 

 


publicado por aquiharatos às 02:53
Terça-feira, 23 de Março de 2010

A Biblioteca Escolar associou-se ao Projecto Bibliotecas pela Igualdade de Género (BIG) com a exposição de livros sobre e de mulheres notáveis na Literatura, na Política, na História, na Ciência, no Teatro, na Música e na Assistência aos mais Pobres.

 

  Biografias disponíveis na Biblioteca Escolar

 

 

 

Cultura e Humanismo no feminino, oferta da BE

 

 

  Violoncelista portuguesa na 1ª metade do séc. XX Fadista portuguesa

 

 

  Poeta imortal

 

 

 A Exposição na Biblioteca Escolar destacou ainda bibliografia existente nas estantes sobre a Igualdade de Género e os Direitos das Mulheres, não esquecendo duas publicações de professoras aposentadas da nossa escola: As Mulheres Deputadas e o exercício do poder político representativo em Portugal – Do pós-25 de Abril aos anos noventa, de Maria Amélia Clemente Campos, e Movimentos de Mulheres em Portugal, Décadas de 70 e 80, de Manuela Tavares, convidada e representante do Projecto BIG.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Publicação da Dr.ª Amélia CamposDa autoria da convidada da UMAR, Dr.ª Manuela Tavares 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

            

 

 

 



publicado por aquiharatos às 00:23
Terça-feira, 23 de Março de 2010

 

 

 

 

 

 

     No dia 16 de Março, teve lugar na nossa escola uma sessão subordinada ao tema "Violência nas Relações de Intimidade", com a Dr.ª Manuela Tavares, da Associação UMAR: União de Mulheres Alternativa e Resposta. A iniciativa partiu de um grupo de alunos do 12º ano, que abordaram a temática em Área de Projecto, com a coordenação da Prof.ª Cecília Farinha. Decidiram convidar a Dr.ª Manuela Tavares que, além de pertencer à Direcção da UMAR, foi professora na Escola Secundária Fernão Mendes Pinto durante longos anos, sendo uma figura respeitável na comunidade educativa.

 

 

 A conferencista abordou a questão da violência sobre as mulheres sobretudo do ponto de vista das representações sociais e respondeu a interpelações de alunos que, de várias turmas e anos de escolaridade, participaram. Uma das alunas responsáveis pelo Projecto questionou a plateia, tornando a sessão viva e interessante para os alunos.

 

 

Este trabalho foi complementado, a nível da escola, com a entrega de um conjunto de obras sobre a Igualdade de Género à Biblioteca Escolar e com a Inauguração de uma Exposição Itinerante denominada "Mulheres no Espaço Público e Novas Masculinidades", que esteve patente ao público na sala polivalente.

 

Bibliotecas pela Igualdade deGénero - exposição itinerante Bibliotecas pela Igualdade deGénero - exposição itinerante Bibliotecas pela Igualdade deGénero - exposição itinerante Bibliotecas pela Igualdade deGénero - exposição itinerante Bibliotecas pela Igualdade deGénero - exposição itinerante Mª de Lourdes Pintasilgo - Primeiro-Ministro em Portugal



publicado por aquiharatos às 00:02
Domingo, 21 de Março de 2010

 

http://faggiani.files.wordpress.com/2006/08/camposimagem.jpg

 

O Plano Nacional de Leitura e o Centro Cultural de Belém celebram Dia Mundial da Poesia, com diversos eventos. A Maratona da Leitura é dedicada a Álvaro de Campos, heterónimo de Pessoa, autor das conhecidas Ode Marítima e Ode Triunfal.
Cesário Verde, Sophia de Mello Breyner Andresen, Tolentino Mendonça, Nuno Júdice são apenas alguns dos muitos poetas para ouvir "de viva voz", no CCB.
 

http://www.min-edu.pt/np3/4682.html

 

 



publicado por aquiharatos às 14:44
Domingo, 21 de Março de 2010

A palavra aos poetas...

 

A LARANJA 

 

Arredondou-me
o tempo.

Verde.

Depois
dei por mim
a arder
entre as folhas.

Pesada.

Toda
Destinada
a c
a
i
r.

Terás
de rasgar-me
o vestido.

 

Mário Castrim, in Histórias com juízo

http://www.cidademarketing.com.br/2009/sysfotos/imagensexibicao/noticias/dezembro2009/laranja.jpg

 

PÁSSARO EM VERTICAL

 

 

Cantava o pássaro e voava
cantava para lá
voava para cá
voava o pássaro e cantava
de
repente
um
tiro
seco
penas fofas
leves plumas
mole espuma
e um risco
surdo
n
o
r
t
e

_
s
u
l.

 

Libério Neves, Pedra solidão, Belo Horizonte, Movimento Perspectiva, 1965

 

 

OUSEI

 

 

Ousei sonhar
sonhar-te
sonhar-nos
Por entre as sombras
procurei sinais
que dessem voz às palavras
que fossem eco
no silêncio
do teu medo de amar
Neste viver suspenso
do encontro adiado
nesta forma de estar
(ou não estar)
sempre à minha procura
sempre à procura de nós
encontrei a noite
...longa de mais
.

 

Maria Teresa Rodrigues Sobral,  in Antologia de Poesia Portuguesa Contemporânea, 1998, Edit. Minerva, vol.X

 

 

Maria Teresa R. Sobral é professora de Matemática na Escola Secundária Fernão Mendes Pinto e co-autora de várias colectâneas de poesia.

 

 

EM TODAS AS RUAS TE ENCONTRO

 

 

Em todas as ruas te encontro
Em todas as ruas te perco
conheço tão bem o teu corpo
sonhei tanto a tua figura
que é de olhos fechados que eu ando
a limitar a tua altura
e bebo a água e sorvo o ar
que te atravessou a cintura
tanto, tão perto, tão real
que o meu corpo se transfigura
e toca o seu próprio elemento
num corpo que já não é seu
num rio que desapareceu
onde um braço teu me procura

Em todas as ruas te encontro
Em todas as ruas te perco

 

 

Mário Cesariny



publicado por aquiharatos às 14:33
Terça-feira, 16 de Março de 2010

 

Chama-se Luís Vieira, frequenta o 11º5, num Curso de Línguas e Humanidades. Sentiu-se atraído por Nikolai Gógol, escritor russo, e decidiu apresentar a obra O Nariz, na "Conversa de café com livros", na "Quinzena da Leitura e da Cultura 2010".

                                                        

 

Num diálogo descontraído, este aluno de Literatura provocou a assistência: "E se num dia, ao tomarem o pequeno-almoço, descobrissem um nariz dentro de um pão? E se acordassem sem nariz?" 

As reacções não se fizeram esperar: repulsa, atracção, o imaginário a pulsar...e a puxar os leitores para o universo da leitura, através de uma obra tão ficcional quanto literária, que confunde o leitor, que brinca com ele e o torna atento. Qual a voz que ora se manifesta? O narrador? A personagem? Que personagem?

 

 



publicado por aquiharatos às 11:09
Terça-feira, 16 de Março de 2010

 

De fantasia e da conquista do leitor falou-nos António Barreira, professor de História de Artes na Fernão Mendes Pinto.

STIEG LARSSON é a grande atracção da juventude. Quem antes pensava não gostar de ler ou ser possível partilhar um livro com o Farm Ville e, em simultâneo, ver televisão ou ouvir música, com a trilogia do autor entendeu que só a leitura é já demasiado envolvente. E consegue devorar, em menos de nada, A Rapariga que sonhava com uma lata de gasolina e um fósforo, Os Homens que não amavam as Mulheres ou A Rapariga do Palácio das correntes de ar.

 

 



publicado por aquiharatos às 11:09
Terça-feira, 16 de Março de 2010


 

Não rimes.
Ou rima, se quiseres,
mas não violentes
a palavra.
Não busques ansioso,
qual amante inexperiente,
a palavra.

Espera antes
a sua vinda.

Música e rima
são acessórios dispensáveis:
O poema é outra coisa.

Deixa, pois
que as palavras acordem
na matriz
e caiam maduras.
Áridas ou frias,
secas e imperturbáveis,
orvalhadas, humildes,
estropiadas até,
que sejam precisas,
prenhes de significado.

Espera as palavras.
Elas viajam misteriosas,
desconhecidas ainda,
elas germinam
em ti.

Caem. Juntam-se.
Doloridas, feias
sob o visco placentário,
deselegantes por vezes,
elas procuram-se
e organizam-se.

Juntas transcendem-se,
há algo de íntimo,
coeso e secreto
nelas.

O poema está aí.

 



publicado por aquiharatos às 11:09
Gosto de livros. Da textura, da cor, das linhas, dos parágrafos. De folhear, ler, parar, saborear. Gosto de livros. Gosto. Moro na Biblioteca da Escola Secundária Fernão Mendes Pinto, em Almada, e ando à procura de outros ratos devoradores. Visita-me!
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